segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Fantasia - Bruno Munari

Fantasia: invenção, criatividade e imaginação na comunicação visual de Bruno Munari instiga as possíveis descobertas que podemos provocar em nosso cérebro.

A seguir, trechos sobre as técnicas que podemos utilizar para encontrar conexões ainda não realizadas entre elementos, coisas e objetos.

A fantasia, a invenção, a criatividade pensam, a imaginação vê.



"A fantasia é a faculdade mais livre de todas; com efeito, pode não ter em conta a viabilidade ou o funcionamento daquilo que pensou. Tem a liberdade de pensar qualquer coisa, mesmo a mais absurda, incrível ou impossível.

A invenção usa a mesma técnica que a fantasia, isto é, a relacionação entre o que se conhece, mas com o objetivo de uma utilização prática. Inventa-se um novo motor, uma fórmula química, um material, um instrumento, etc. O inventor, porém, não se preocupa com o aspecto estético da sua invenção. O que lhe importa é que a coisa inventada funcione verdadeiramente e sirva para qualquer coisa." p. 23

"Inventar quer dizer pensar em qualquer coisa que anteriormente não existia. Descobrir quer dizer encontrar qualquer que anteriormente não se conhecia, mas existia. Pode dizer-se, por exemplo, que Galileu inventou o telescópio com o qual descobriu que Júpiter tem satélites." P. 24

A criatividade é uma utilização, com um dado objetivo, da fantasia, ou melhor, da fantasia e da invenção, em conjunto. A criatividade é usada no campo do design, considerando o design como modo de projetar, um modo que, sendo embora livre como a fantasia e exato como a invenção, compreende todos os aspectos de um problema, não só a imagem como a fantasia, não só a função como invenção, mas também o aspecto psicológico, o aspecto social, econômico, humano. Pode falar-se de design como de projetar um objeto, um símbolo, um ambiente, uma nova didática, um método para procurar resolver necessidades coletivas, etc.

A imaginação é o meio para visualizar, para tornar visível aquilo que pensam a fantasia, a invenção e a criatividade. A imaginação, em certos indivíduos, é muito fraca, noutros é ardente, rápida, noutros ultrapassa o pensamento." P. 24

"A mais elementar manifestação da fantasia nasce talvez da inversão de uma situação, do uso dos contrários, dos opostos, dos complementares: ele diz verde? eu digo vermelho. Uma gravura popular antiga, muito conhecida, intitulada O mundo às avessas mostra um cavalo montando um homem, uma paisagem sobre as nuvens, algumas ovelhas que guardam um rebanho de homens e outras bizarrias." P. 40

Esta percepção, nas crianças é ainda muito acentuada, por isso riem se lhes dizemos que o açúcar é amargo e divertem-se muito se lhes contamos uma história de uma tartaruga que corre como um relâmpago. Um exemplo para os adultos: uma pessoa que trabalha todo o dia com números, encontrará o seu equilíbrio na pintura.

"O problema central do desenvolvimento da fantasia é o aumento do conhecimento, de forma a permitir um maior número de relações possíveis entre um maior número de dados. Como é óbvio, isto não significa que, automaticamente, uma pessoa muito culta seja também uma pessoa com muita fantasia. Há pessoas que memorizam uma quantidade enorme de dados e que, para os outros, passam por pessoas muito inteligentes, quando afinal se trata apenas de memória. Se estas pessoas não estabelecerem relações entre aquilo que sabem, se não utilizarem a fantasia, permanecerão como um maravilhoso armazém de dados inertes." P. 37

Estímulo da criatividade
"A criatividade como utilização, com objetivos definidos, da fantasia e da invenção, forma-se e transforma-se continuamente. Ela exige uma inteligência rápida e flexível, uma mente livre de preconceitos de qualquer espécie, pronta a aprender aquilo que lhe serve em cada ocasião e a modificar as suas opiniões quando se lhe depara outra mais justa." P. 123

"O indivíduo na infância não deve ser sufocado por imposições, constrangido em esquemas que não são os seus, obrigado a copiar modelos." P. 123

"Muitas vezes não é dada qualquer explicação técnica, ficando as crianças abandonadas a si próprias e sem qualquer ajuda. Muitos professores e educadores infantis dizem: 'Deixamos as crianças completamente livres para fazerem o que quiserem, damos-lhes as tintas e o barro e elas exprimem-se livremente'. Mas se o conhecimento destas crianças não for alargado com jogos criativos, elas não poderão estabelecer relações entre as coisas conhecidas, ou só o poderão fazer de uma forma muito limitada, de modo que a sua fantasia não se desenvolverá." P. 123

MUNARI, Bruno. Fantasia. 2ª ed. Lisboa: Editorial Presença, Lda, 1987.

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